Dominado muito mais pela área médica do que pelos psicólogos, Mindfulness vem se destacando no meio científico e não é para menos...
Mindfulness ou atenção plena é uma prática antiga que vem ganhando cada vez mais destaque no meio científico e terapêutico. De raízes budistas, mindfulness é o ato de focar a atenção no momento presente, aceitando a experiência atual sem julgamento – embora haja muitos significados e conceitos distintos que, se você for psicólogo(a), deve conhecer profundamente. Kabat-Zinn (1994) foi um dos pioneiros em adaptar essa prática oriental para o ambiente clínico, desenvolvendo o programa de Redução de Estresse Baseado em Mindfulness (MBSR, na sigla em inglês).
A importância de mindfulness no meio científico é corroborada por uma infinidade de estudos que evidenciam seus benefícios na saúde mental, na redução do estresse, na melhoria da atenção, entre outros. Segundo estudos publicados em revistas como “Journal of Consulting and Clinical Psychology” e “Mindfulness and Acceptance”, a atenção plena se configura como uma ferramenta valiosa em diversos ramos da psicologia.
De fato, o mundo da psicologia também assiste um interesse crescente na prática da atenção plena. Trata-se de uma abordagem multifacetada, de terceira geração, que envolve treinamento da atenção, percepção e autoconsciência e que tem demonstrado resultados notáveis no tratamento de diversos transtornos mentais. Neste artigo, vamos examinar a importância da psicologia da atenção plena, destacando sua relação com os princípios da neurociência e as mudanças neuropsicológicas associadas às técnicas de mindfulness.
Benefícios de Mindfulness que podem ser associados à terapia
Redução de Estresse e Ansiedade
Um dos benefícios mais amplamente estudados de mindfulness é a redução do estresse e da ansiedade. Segundo um estudo de meta-análise publicado por Khoury et al. (2015), as práticas de mindfulness são eficazes na redução de sintomas de ansiedade e depressão.
Melhoria do Foco e da Atenção
Mindfulness também pode ser útil na melhoria da atenção e da concentração. Um estudo realizado por Jha, Krompinger e Baime (2007) mostra que o treinamento em mindfulness pode proteger contra os efeitos deteriorantes do estresse na atenção.
Redução dos sintomas de transtornos psicológicos
Estudos como os de Hofmann, Sawyer, Witt e Oh (2010) mostram que a atenção plena pode ser uma abordagem eficaz no tratamento de transtornos como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e a Fobia Social.
Fomento da Inteligência Emocional
De acordo com estudos publicados por Goleman e Davidson (2017), a atenção plena pode auxiliar no desenvolvimento da inteligência emocional, ajudando os indivíduos a gerir melhor suas emoções e relações interpessoais.
Autoconhecimento e Autoaceitação
Mindfulness também se relaciona com uma maior consciência sobre o self. Segundo Brown e Ryan (2003), a prática está associada a uma maior clareza e aceitação da própria experiência.
Mindfulness e Neurociência
É fascinante como o campo da neurociência tem vindo a corroborar o que práticas meditativas, incluindo mindfulness, propõem há milênios: a plasticidade neural e a capacidade do cérebro de se reorganizar. Estudos de imagem cerebral, como aqueles aumentos prolongados por Sara Lazar na Harvard Medical School, demonstraram que a meditação mindfulness está associada à densidade de matéria cinzenta em regiões do cérebro ligadas à memória, aprendizado e autorregulação emocional (Lazar et al., 2005 ).
Imagine se nós, psicólogos, pudéssemos tirar uma “foto” (via ressonância magnética, claro!) do cérebro do nosso paciente antes de iniciar a terapia e depois de 8 sessões, e essas “fotos” mostrassem mudanças estruturais que confirmam aquilo que podemos atestar empiricamente: mais equilíbrio emocional, funções executivas do cérebro funcionando bem, um cérebro resiliente. Pois bem, pela primeira vez em toda história da psicologia isso pode ser possível através do uso de mindfulness na psicoterapia! Claro, se não fosse pela inacessibilidade desses exames, que são tão caros.
As técnicas de mindfulness têm o potencial de influenciar o padrão de ativação neural, incluindo o córtex pré-frontal, responsável pela autorregulação e tomada de decisões (Davidson & McEwen, 2012). Essas mudanças neurológicas são traduzidas em melhorias comportamentais e psicológicas, tornando a prática um complemento poderoso para a intervenção psicológica.
A aplicação de mindfulness na psicologia clínica oferece uma abordagem eficaz para o tratamento de transtornos como depressão, ansiedade e estresse. Terapias cognitivo-comportamentais baseadas em mindfulness (MBCT), por exemplo, demonstraram eficácia no tratamento de recidivas depressivas (Segal et al., 2018).
Mas, o que você não sabe é que a possibilidade de trabalhar com mindfulness em terapia não estão apenas nos modelos prontos que conhecemos – os protocolos de 8 semanas e algumas abordagens específicas, como a terapia de aceitação e compromisso e a terapia dialética comportamental. É possível compreender outras vertentes de trabalho do psicólogo com mindfulness – especialmente sob a visão das “Terapias baseadas em Mindfulness”, que compreende não só tais abordagens protocolares (MBSR, MBCT), mas também um conjunto de intervenções baseadas em mindfulness que são construídas mediante uma formulação de caso clínico, delimitado por testagens específicas, permitindo a elaboração de protocolos únicos, altamente personalizados e, portanto, de grande eficácia.
Se você quer aprender como fazer isso, o Centro de Psicologia Positiva e Mindfulness do Paraná ensina as Terapias baseadas em Mindfulness desde 2014. Saiba mais clicando aqui.
Como começar a trabalhar com Mindfulness?
Para os psicólogos interessados em incorporar mindfulness em suas práticas, é crucial uma formação específica que aborde tanto a teoria quanto as técnicas de meditação. Cursos de certificações em mindfulness oferecem uma base sólida para a aplicação clínica. Clique aqui para conhecer a mais completa ementa de formação em mindfulness.
Quais as vantagens de trabalhar com Mindfulness na Psicologia?
Mindfulness é um campo multifacetado cuja evolução científica nos permite construir diferentes tipos de serviços em psicologia, com alto respaldo técnico e eficiência comprovada, gerando autoridade em torno do seu trabalho. Além disso, mindfulness é útil quando o assunto é intervenção, prevenção de transtornos e promoção de saúde mental, o que o torna absolutamente útil e versátil. Se enfatiza a perspectiva holística e integrativa a partir de moldes científicos, o que faz de mindfulness um campo sem igual dentro da psicologia.
Conclusão
A prática da atenção plena não é apenas uma ‘moda’ no campo da psicologia, mas sim uma abordagem respaldada por crescentes evidências científicas, particularmente nas áreas de neurociência e neuropsicologia. Adotar métodos baseados em mindfulness na prática psicológica pode fornecer um caminho enriquecedor tanto para o terapeuta quanto para o paciente.
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Referências
– Brown, K. W., & Ryan, R. M. (2003). The benefits of being present: mindfulness and its role in psychological well-being. Journal of personality and social psychology, 84(4), 822–848.
– Davidson, RJ and McEwen, BS (2012). Social influences on neuroplasticity: stress and interventions to promote well-being. Nature Neuroscience, 15(5), 689–695.
– Lazar, SW, et al. (2005). The meditation experience is associated with increased cortical thickness. NeuroReport, 16(17), 1893–1897.
– Goleman, D., & Davidson, R. J. (2017). The science of meditation: How to change your brain, mind and body. Penguin UK.
– Hofmann, S. G., Sawyer, A. T., Witt, A. A., & Oh, D. (2010). The effect of mindfulness-based therapy on anxiety and depression: A meta-analytic review. Journal of consulting and clinical psychology, 78(2), 169–183.
– Jha, A. P., Krompinger, J., & Baime, M. J. (2007). Mindfulness training modifies subsystems of attention. Cognitive, Affective, & Behavioral Neuroscience, 7(2), 109–119.
– Kabat-Zinn, J. (1994). Wherever you go, there you are: Mindfulness meditation in everyday life. Hyperion.
– Khoury, B., Lecomte, T., Fortin, G., Masse, M., Therien, P., Bouchard, V., … & Hofmann, S. G. (2015). Mindfulness-based therapy: A comprehensive meta-analysis. Clinical Psychology Review, 37, 1-12.
– Segal, ZV, et al. (2018). Mindfulness-based cognitive therapy for depression (2nd ed.). Guilford Press.